Das surpresas recebidas



Fomos apresentados. Me lembro como se fosse hoje... No começo do ano, tive uma leve impressão do que se tratava. Já havia visto vários dele empilhados pelas estantes, ou mesmo jogados pelas mesas da biblioteca da escola, ou um e outro em cima do criado mudo de minha mãe, mas nunca dei a mínima!

É estranho se falar desse jeito, visto que, querendo ou não, ele me acompanhava cada dia na sala de aula. Minha mochila que o diga, firme e forte. Quero nem lembrar das dores que sentia nas costas, ao chegar em casa, por carregar tanto peso. Isso deveria ser um crime. Imagina só, um para cada matéria... Tinha para todos os gostos: ciências da natureza e ciências sociais, matemática, linguagens. O que custava facilitar a nossa vida, colocando tudo num só?

É isso mesmo. Sempre preferi a praticidade, já na pouca idade que tinha. Se acontecia algum problema em casa, fones de ouvido... Ok! Celular... Ok! Volume nas alturas... Pra já! Bem mais eficiente do que aqueles tais sobre auto ajuda. Música, é pra já que te quero!

Mas como dizia um certo poeta português, que aprendi a gostar: "mudam-se os tempos, mudam-se as vontades". E foi aí que fomos apresentados. Ele chegou despretensiosamente. Na verdade, nem o havia pedido. Desde quando isso era presente para se dar de aniversário? Enfim, para não fazer desfeita, aceitei-o e guardei-o.

Na semana seguinte, algo interessante aconteceu. Confesso que não era muito ligada nas aulas, mas algo que o professor citou chamou minha atenção: "Nunca mais recuarei diante da verdade; pois quanto mais tardamos a dizê-la; mais difícil torna-se aos outros ouvi-la." E sou a prova viva de que isso é verdade. Na semana passada mesmo, havia discutido feio com minha melhor amiga e tudo por causa de um babaca, alguém que ela não merecia. Mas fazer o quê, sabe aquele famoso ditado, "o pior cego é aquele que não quer ver"?

Pois é, mas voltando àquela frase, lembrei-me do presente que havia ganhado, aquele que rejeitara, mas que mesmo assim havia guardado. Praticamente intocável, mas ao menos, tirei-o da embalagem. A partir daí, comecei a fazer algo que nunca havia feito: tocar, folhear e, olhem só, cheirar! Cheirar aquilo? Pois é. Não sei bem decifrar o cheiro, mas devo admitir que me agradou. Como estava de bobeira, deitei na cama e passei a folheá-lo, no objetivo de localizar a dita frase. Quem diria que aquele diário extraísse de mim sensações tão variadas? Que louco poder viajar no tempo, voltar o relógio para a Alemanha nazista.

Anne Frank era o nome dela, a menina escritora, seu diário era sua válvula de escape em meio a toda perseguição que sofria, junto de sua família. E eu, bem aquecida, tendo do bom e do melhor, no aconchego do meu lar... Não tive como não me colocar no lugar da pobre moça. Quando dei por mim, já havia anoitecido. Quantas horas sem assistir televisão mesmo? Sem mexer no celular ou usar o notebook? Puxa! 

Desse dia em diante, não consegui mais largá-lo. Hoje, até perdi a conta de para quantos lugares viajei. Tem cada um que a emoção fica à flor da pele. Simplesmente não consigo largar! 

Muito tenho aprendido, muito tenho imaginado. Criei todo um universo, me tornei explorador e tudo isso a partir de um simples presente, presente esse que ficava guardado no canto da gaveta, só precisando de uma chance para causar uma verdadeira revolução.


Sabrina Sousa

Nenhum comentário

Postar um comentário